Reflexão

Por que é tão difícil lidar com as diferenças?

Parece simples dizer que aceitamos e sabemos lidar bem com as diferenças do outro. Afinal, é premissa básica para se relacionar. Em nossas relações, semelhanças e interesses em comum tendem a despertar simpatia e empatia mútua, incentivando a proximidade gradual. Já as diferenças tendem a ser motivo de conflitos e distanciamento. É fácil manter uma relação com alguém que é super parecido com você. Já com alguém que te desperta contestações…

É claro que algumas pessoas podem pensar: a solução para esse impasse é simples! Basta se afastar ou nem mesmo construir uma relação com quem eu considerar muito diferente de mim.

Será mesmo? Visto que somos donos de nossas escolhas, sim. Porém, construir relações não necessariamente implica em relacionar-se apenas com quem é parecido com você. Muitas vezes aprendemos mais com aqueles que menos esperamos. Aprendemos muito com o outro e através do outro. Basta estar aberto para a possibilidade.

A imprevisibilidade e complexidade do ser humano e da vida deveriam nos impulsionar a construir relações mais abertas ao contínuo aprendizado e enriquecimento interno, independentemente das similaridades ou divergências existentes. Quando se trata do que pensamos sobre o outro aprendemos que muitas vezes nossos julgamentos podem estar errados. Há uma tendência em se focar apenas em um dos lados da moeda, como quando alguém nos decepciona, por exemplo. E por que não olhar também o outro lado, o de sermos surpreendidos positivamente com as pessoas?

Julgar demanda menos de nós mesmos do que ter paciência para conhecer realmente outra pessoa. E conhecer se trata de buscar entender histórias e pontos de vista, mesmo que não sejam nem um pouco parecidos com os seus. Lidar com as diferenças exige que nos conheçamos e que saibamos acessar aspectos essenciais para a nossa evolução como seres humanos através do convívio com diferentes.

Temos consciência que todos somos diferentes em determinados aspectos e parecidos em outros. O importante é mantermos em mente que sempre é possível aprender e ensinar coisas novas, sob novas visões.

Estar aberto para a troca de conhecimento nos ensina muito sobre respeito e humildade. Nos ensina sobre quem somos e como gostaríamos de ser.

Para quem gosta de filmes e séries, citarei brevemente dois títulos que abordam essa temática.

“The African Doctor”, em português “Bem-vindo a Marly-Gomont”, é um filme francês que mistura comédia e drama e se passa em 1975. Trata-se da história de uma família natural do Congo que se muda para um pequeno vilarejo francês devido a uma oportunidade de trabalho do jovem médico Seyolo Zantoko. Os Zantoko enfrentam uma série de dificuldades para adaptarem-se e a trama se desenvolve por meio do enfrentamento de situações difíceis e da superação do preconceito através do exercício contínuo da resiliência. As pitadas de comédia e o olhar bem humorado trazem leveza (e críticas embutidas) ao tema denso, nos fazendo pensar através e além.

“Anne with an E” é uma série ambientada no final do século 19. Baseada no clássico da literatura canadense “Anne de Green Gables”, a história aborda temas sensíveis e profundos, levantando questões importantes e atuais, como a adoção, preconceito, igualdade de gênero, traumas psicológicos, entre outros. Anne é uma garota repleta de imaginação e criatividade, que apesar da infância conturbada busca levar a vida com otimismo. Adotada por engano por um casal de irmãos, Anne mostra ao espectador lições valiosas sobre superação, resiliência e compaixão neste drama que nos envolve e cativa também através de uma belíssima fotografia e enredo.

A ficção é entretenimento, mas também pode ser aprendizado, como uma forma de exercitar novos olhares em diferentes contextos. Ambas as obras abordam temáticas reais e aplicáveis ao contexto em que vivemos. São oportunidades para refletir sobre nossos comportamentos e fomentar ponderações que reverberem em nosso interior.

Vivemos em um mundo acelerado, onde observamos pessoas cada vez mais impacientes, estressadas e individualistas. Com isso, torna-se desafiador desacelerar e buscar meios para se viver em harmonia com as diferenças.

Lidar com a diferença de maneira geral nos possibilita escutar sem antes julgar, a trabalhar a empatia e exercitar a paciência. Mas, mais do que isso, nos faz enxergar que podemos aprender sempre. Podemos aprender com a experiência e vivência das pessoas, conhecer histórias, personalidades e visões de mundo além das que estamos habituados. É um exercício de humildade e de troca. É entender que assim como sentimos que temos muito para compartilhar e contribuir, outras pessoas ao nosso redor também.

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