Reflexão

“A verdadeira essência da vida reside no cotidiano”

Como nossas ações diárias e hábitos aparentemente insignificantes indicam quem somos e influenciam nossa qualidade de vida? 

A repetição de tarefas combinada com a pressa diária muitas vezes faz com que ignoremos a importância das coisas comuns.
Mas é por meio do trivial que a gente se vê e se conhece. É a partir disso que comunicamos quem somos.
Os movimentos corriqueiros que compõem nosso dia a dia influenciam o nosso humor, mente, alma e corpo. E são valiosos. 

Tem a ver com o modo que acordamos e o que fazemos logo que despertamos. 
Tem a ver com os alimentos que ingerimos e a maneira que escolhemos lidar com um sentimento que aparece.
Tem a ver com as nossas atitudes diante dos imprevistos e das pessoas com quem convivemos.

Quando um casal se atrasa para um compromisso devido ao trânsito, Daiane culpa Pietro por tê-los feito sair tarde, elevando a voz e fazendo comentários sarcásticos. Pietro, reconhecendo a tensão da situação, respira fundo e sugere calmamente que ambos reflitam sobre como podem se organizar melhor da próxima vez, sem atribuir culpas.

Quando um imprevisto urgente surge, Douglas fica extremamente ansioso e liga nervosamente para todos os envolvidos tentando agendar novos horários, ficando irritado quando não consegue remarcar tudo imediatamente. Sente que o seu dia todo foi arruinado devido a isso. Já Catarina, quando precisa lidar com um imprevisto urgente, mantém a calma, faz os contatos necessários, prioriza os compromissos mais importantes e reorganiza sua agenda. Sente que fez o melhor que pôde e segue a sua rotina pelo restante do dia.

Ou, durante uma discussão sobre finanças, Fabiana reage defensivamente às sugestões de economia de Bruna, acusando-a de controlar seus gastos. Bruna, percebendo a escalada do conflito, propõe uma pausa na conversa para que ambas se acalmem, e sugere retomarem o assunto mais tarde com a ajuda de um planejador financeiro.

Como você trata aqueles que vê diariamente?
E como trata as suas vontades? 
Existe um espaço para cuidar dos seus pensamentos?

Como está o balanço entre dar e receber?

Pense.

A vida no piloto automático

Não costumamos prestar atenção nisso: acordar, se alimentar, se arrumar, trabalhar, produzir, interagir, resolver problemas, dormir. Sob uma certa ótica, são hábitos concretos. São atividades comuns e repetitivas. Com frequência acabam entrando na esfera do automático. 
Porém, aquilo que vivemos de maneira automática é também aquilo que foge da consciência e por isso, nos afasta de nós mesmos.
Deixamos de ser seres únicos e passamos a ser executores.
Com isso deixamos de nos enxergar.
A criatividade mingua e a chance de fazer diferente também. 

Assim como o modo automático traz prejuízos para o contato com seu verdadeiro Eu, viver apenas para o momento do aplauso, para a promoção no trabalho ou para a hora do glamour, basicamente orientados para o futuro, também acarreta em impactos negativos.

Sendo realista, é verdade que em alguns momentos o automatismo surge como forma de reservar energia para aquilo que nos demanda vivacidade. Faz parte das escolhas que muitas vezes são necessárias serem feitas em prol de nos atender em nossas necessidades. Mas se torna um problema quando o modo automático passa ser a forma de se conseguir passar pelos dias, quase como um estilo de vida para obter mais produtividade ou eficiência. 
Também é verdade que ter sonhos e objetivos a longo prazo promovem um senso de direção e trazem motivação. Mas se torna um fardo quando você passa a viver única e exclusivamente para esse futuro.

Você perde oportunidades de se nutrir de tudo aquilo que já está acontecendo bem debaixo do seu nariz: A VIDA.

Enquanto seguir apoiado apenas no senso de eficiência ou no futuro, deixará de ver o que há além disso. 
Com o acúmulo de dias sem autoconsciência, o corpo, mente e espírito naturalmente irão reclamar.

“Ei, me olhe! Cuide de mim e veja do que preciso!”

Como saber se você está precisando prestar mais atenção a si mesmo?

Os reflexos no corpo podem aparecer sob a forma de tensão muscular crônica, distúrbios digestivos (azia frequente, síndrome do intestino irritável, constipação devido à alimentação inadequada e apressada), fadiga constante, problemas de sono, ganho ou perda de peso, enxaqueca, alergias, entre outros.

Já se você notou ter dificuldade de manter foco e concentração, tem esquecimento frequente, tem tido reações exageradas a pequenos contratempos, preocupação excessiva com o futuro e acúmulo de estresse, os prejuízos mentais estão se manifestando.

A sensação de vazio, como se algo estivesse faltando na vida, mesmo quando aparentemente tudo está bem, a dificuldade em encontrar significado nas atividades diárias, a sensação de estar apenas existindo e dificuldade para manter relacionamentos significativos, são alertas da sua alma indicando a necessidade de mais cuidado e nutrição.

Todos os chamados são oportunidades para que você preste mais atenção em si mesmo.
E cada indivíduo possui uma linguagem única através da qual seu corpo, mente e espírito expressam a necessidade de maior atenção e cuidado. É crucial reconhecer que, independentemente da origem do desconforto – seja ele de natureza psicológica ou física – todo sofrimento merece ser validado e adequadamente tratado.

Como afirma Denise Ramos: “Toda e qualquer doença tem uma expressão no corpo e na psique simultaneamente. O que leva um paciente a procurar um médico ou psicólogo nos nossos dias é o grau de sofrimento em uma polaridade“.

A importância da autoconsciência

Esta interconexão ressalta a importância de desenvolvermos uma consciência mais profunda sobre nós mesmos, observando atentamente as mensagens que nos enviamos constantemente.
Ao cultivarmos esta autoconsciência, tornamo-nos mais aptos a identificar precocemente nossas necessidades, quaisquer que sejam. Assim, podemos buscar ajuda profissional – médica ou psicológica – de forma mais assertiva, permitindo uma abordagem integrativa para nosso bem-estar. Esta postura proativa não apenas facilita a identificação e tratamento de potenciais problemas, mas também nos capacita a viver de maneira mais saudável, honrando a complexidade e a singularidade de nossa existência.

Nesta jornada de autodescoberta e cuidado, é essencial reconhecer e celebrar as pequenas vitórias e momentos de alegria que muitas vezes passam despercebidos.

É possível notar o brilho de um gesto que só você viu? 
É possível sorrir sozinha por algo que só você reconhece ressoar positivamente dentro de você? 
É possível ainda, se orgulhar por algo de bom que fez apenas por si hoje? 
Claro que é! E você consegue. 

Dá para olhar apenas para contemplar. 
Dá para sentir sem se punir.
Dá para viver sem performar.
Ah! Também dá para pensar sem se cobrar.

E é a partir dessas e outras ações rotineiras que você pode acabar se percebendo verdadeiramente.
É preciso que essa perspectiva seja exercitada consistentemente.

A  vida é uma experiência contínua de ser e tornar-se, um fluxo constante de mudanças e crescimento. Paradoxalmente, é nas coisas mais simples e cotidianas que frequentemente encontramos as maiores verdades sobre nós mesmos.

O desafio está em permanecermos conscientes e presentes em meio à tantas demandas externas, cultivando uma prática constante de auto-observação e reflexão. Ao fazer isso, podemos descobrir que as respostas que buscamos muitas vezes estão bem diante de nós, escondidas nos dias mais comuns possíveis.

Se você deseja explorar mais profundamente essas reflexões e entender mais sobre quem é para viver com maior consciência e saúde, a psicoterapia pode ser um caminho valioso.

E se quiser, conte comigo para te acompanhar.

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